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OPINIÃO: Os desafios das aulas remotas em período de pandemia - por Kalina Oliveira






Desde março de 2020, deparamo-nos com um novo cenário, assustador e caótico. Tivemos que repensar muitos valores e nos reinventarmos em variados aspectos. De fato, todos fomos pegos de surpresa e ninguém estava preparado para essa revolução tecnológica nas questões educacionais.
As aulas remotas surgiram como uma opção para a continuidade das atividades escolares e, obviamente, vários questionamentos também surgiram, a saber: se os alunos estão aprendendo de forma remota, os saldos positivos e negativos das aulas remotas referentes às questões de aprendizagem e o papel da família quando se fala em escolarização formal.


Antes de tudo, quero deixar claro que as interações interpessoais favorecem as questões de aprendizagem, e o ambiente formal adequado para que essas interações aconteçam é a escola, a escola física e não virtual. Estar aprendendo ou não de forma remota é algo extremamente singular, muito
particular do ser cognoscente (aquele que aprende), fruto do contexto (des)favorável em que estão inseridos e das condições que estão no entorno do estudante (recursos tecnológicos, suporte familiar, questões organizacionais e motivacionais, etc.). Há inúmeros fatores que devem ser analisados, pois é um debate plural e uma discussão muitíssimo ampla.


Para Piaget, a aprendizagem acontece a partir de conflitos cognitivos diante de novos conhecimentos (aquilo que eu ainda não sei). Quando aprendemos, estamos ampliando estruturas lógicas, e esse processo acontece diariamente, sempre que nos deparamos com algo desconhecido (lembra como foi usar o google meet pela primeira vez no período de pandemia? Baita conflito cognitivo!). Mas há algo que precisamos pensar juntos: os alunos estão acompanhando os novos conteúdos ou estão apenas
acumulando informações? Eu faço essa pergunta a você!


Acumular informações não é aprender; acumular informações é fingir que aprendeu, não é significativo, é apenas burocrático (exemplo: obteve nota para ser aprovado, mas não houve ampliação de estruturas lógicas!) e temporário. Conhecemos inúmeras pessoas (e isso já aconteceu conosco também) que decoraram conhecimentos para uma determinada prova, mas alguns dias após a prova já não sabiam de mais nada; nessa situação, não houve aprendizagem significativa, apenas acúmulo de informações
temporárias.


Já sabemos que aprender ou não de forma remota é algo singular, pois cada aluno é único e tem uma história muito particular. E os saldos positivos e negativos? Temos inúmeros saldos negativos, tanto é que estamos contando os dias para que tudo volte ao normal e que as aulas ocorram de forma presencial, isso é o óbvio. Mas os saldos positivos também são notórios e devem ser destacados, pois neste período de pandemia e de aulas remotas, os estudantes tiveram a oportunidade de: ser autônomos
no processo de aquisição de novos conteúdos; acessar ilimitadamente novas informações e de variadas formas; compreender o pilar ‘aprender a aprender’, descobrindo assim de que forma aprendem, já que estão vivenciando esse processo individualmente (cada um em sua casa); ampliar o domínio de novas ferramentas tecnológicas e fazer uso delas; etc.


E o papel da família? A família sempre ocupa um papel fundamental no sucesso do estudante, seja no processo de escolarização de forma remota ou presencialmente. Alunos bem sucedidos no processo de escolarização formal são alunos que têm um apoio maior da família e/ou de seus responsáveis; salvo alguns casos, em que mesmo que o ambiente seja desfavorável, o aluno consegue se destacar, por outros fatores motivacionais. Só que agora, no contexto de aulas remotas, os alunos estão em casa, e
os seus responsáveis necessitam dar uma atenção a mais, pois a figura do mediador é crucial para os avanços significativos, resgatando os conceitos da teoria sociocultural de Vygotsky. Orientar, motivar, organizar a rotina, estar junto, explicar com outras palavras e de outras maneiras: tudo isso requer tempo e não podemos responsabilizar unicamente a criança por essas tarefas, transferindo a responsabilidade que também é nossa (família e escola)!


Antes de concluir, quero deixar um abraço especial a todos(as) que fazem a educação formal e reconhecer aqui que educar em período de pandemia é o maior desafio já vivenciado por todos(as) nós... sim, somos heróis/heroínas e, sem dúvida, somos essenciais!
Se possível, deixe nos comentários sua pergunta, seu feedback sobre a discussão, acrescente algo sobre a temática, eu te convido a escrever junto comigo! Além disso, dê sugestões de novos conteúdos para essa coluna, estou aberta a escrever sobre educação numa perspectiva de interesse dos nossos leitores; porque quem escreve, escreve exatamente porque sabe que alguém vai ler, exceto quando escrevíamos em diários secretos, na época de adolescência (rsrs).


Um ‘até semana que vem’ e desejo que vivamos muitos e variados conflitos cognitivos até lá,
Kalina Oliveira.


Acesse o blog da Kalina Oliveira aqui no Bayeux em Foco e confira outros artigos.



KALINA OLIVEIRA
Professora de Língua Portuguesa, Pedagoga e Psicopedagoga.
Mestre em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba (2015). Especialista em
Supervisão e Orientação Educacional pelo CINTEP (2011). Especialista em
Psicopedagogia Institucional (2014) e Clínica (2018) pelo CINTEP. Graduada em
Letras - Língua Vernácula - pela Universidade Federal da Paraíba (2009). Graduada em
Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (2014). Graduada em Psicopedagogia
pela Universidade Federal da Paraíba (2019). Entre 2009 e 2016, colaborou com a
educação no município de Bayeux, nos cargos de Gestora Escolar, Orientadora
Educacional e Professora de Língua Portuguesa em escolas públicas e privadas. Desde
2017, exerce suas atividades profissionais na Clínica-Escola de Psicopedagogia - Centro
de Educação - Universidade Federal da Paraíba, como Técnica em Assuntos
Educacionais (UFPB/CE). Idealizadora do Frutificai – Espaço de Desenvolvimento do
Ser, na cidade de Bayeux. Link do Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6017858287534662
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