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Os impactos psicossociais e seus agravos mediante a pandemia da Covid-19 na vida dos profissionais de saúde



A pandemia do novo coronavírus tem afetado a saúde mental da população e dos profissionais de saúde, principalmente daqueles que atuam diretamente na luta contra a doença. Alta carga horária e maior medo por contaminação dos familiares também contribuem para o esgotamento físico e mental desses trabalhadores, isso acarreta numa modificação significativa na vida de 95% dos profissionais da área da saúde que há mais de um ano atuam na linha de frente do combate à doença. Quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo da crise sanitária, com jornadas acima de 40 horas semanais.


A pandemia por Covid-19 é uma emergência de saúde pública de interesse internacional desde janeiro de 2020 e representa, talvez, um dos maiores desafios da humanidade e da Ciência desde a Segunda Guerra Mundial, e a interação dessa adversidade com os aspectos de Saúde Mental e de invulnerabilidade psicológica necessária aos profissionais de saúde tem similarmente fundamental importância, durante e após a tensão pandêmica.


O avanço da pandemia sobrecarregou exponencialmente os serviços de saúde em detrimento de casos suspeitos e confirmados da Covid-19 e, já se tem uma considerável procura pelos serviços de saúde por demandas relacionadas à Saúde Mental, tendo em vista as decorrências negativas que afetam a coletividade, bem como os profissionais de saúde, provocadas pela pandemia e que não devem ser negligenciadas. Referimos à Saúde Mental um campo da saúde pluralista, e diz respeito ao estado mental dos sujeitos e das coletividades, condições altamente complexas que vão além da ausência de doenças.


Os profissionais de saúde vivenciam, rotineiramente o desgaste emocional por terem de lidar com fatores estressores no ambiente de trabalho que se exacerbam em momentos de epidemias e pandemias. Destacamos sintomas mais evidentes: desesperança, desespero, medo da morte de si e de pessoas próximas, medo de ser infectado e de infectar os outros, enfrentamento de medidas de isolamento social, facilitando assim o surgimento de estresse pós-traumático, sintomas depressivos, de ansiedade e de comportamento suicida, a tudo isso, juntou-se as perspectivas de carreira futura com a economia em geral prejudicada aumentado ainda mais o esgotamento desses profissionais.


A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou uma pesquisa sobre as Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no contexto da Covid-19 em todo o território nacional. A pesquisa mostrou que 45% precisam ter mais de um emprego para se manter e que 14% da força de trabalho que atua na linha de frente está no limite da exaustão. Conforme a consulta, os profissionais estão esgotados, não só por causa da proximidade com o alto número de casos e de pacientes mortos, inclusive colegas, parentes e amigos, mas também por alterações significativas provocadas pela pandemia em sua vida.

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O levantamento, classificado pela Fiocruz como o mais amplo sobre as condições de trabalho dos profissionais de saúde desde o início da pandemia, analisou o ambiente e a jornada de trabalho, o vínculo com a instituição, a vida do profissional na pré-pandemia e as consequências do atual processo de trabalho, envolvendo aspectos físicos, emocionais e psíquicos desses trabalhadores. De acordo com a pesquisa, 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos ao enfrentar a Covid-19. Para 23% deles, o principal motivo desse temor está relacionado com a falta, escassez e inadequação do uso de EPIs. Entre esses trabalhadores, 64% destacaram a necessidade de improvisar equipamentos. O medo generalizado de se contaminar no trabalho foi apontado por 18% dos entrevistados; a falta de estrutura adequada para realização da atividade por 15%; e fluxos de internação ineficientes, por 12,3%. Além disso, 11,8% citaram o despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia e 10,4% denunciaram a insensibilidade de gestores para suas necessidades profissionais.


Os entrevistados apontaram ainda consequências graves e prejudiciais na saúde mental dos que trabalham na assistência aos pacientes com Covid-19. As alterações mais comuns identificadas pelos profissionais no cotidiano são perturbação do sono (15,8%), irritabilidade/choro frequente/distúrbios em geral (13,6%), incapacidade de relaxar/estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia (9,1%), sensação negativa do futuro/pensamento negativo, suicida (8,3%) e alteração no apetite/alteração do peso (8,1%). Para eles, as transformações são reflexo de vários fatores, entre os quais, a falta de apoio institucional, relatada por 60%. Outros fatores que também afligem os trabalhadores da saúde são a desvalorização pela própria chefia (21%), a grande ocorrência de episódios de violência e discriminação (30,4%) e a falta de reconhecimento por parte da população usuária, neste caso, somente 25% se sentem mais valorizados.


Portanto, o mais coerente neste momento de crise, é que os gestores de instituições de saúde, alinhados com os níveis governamentais, tenham atitudes que ao menos minimizem o desgaste psicossocial dos profissionais de saúde. Podem-se organizar plantões de atendimento psicológico nas instituições hospitalares, disponibilização de material on-line sobre redução de ansiedade, medo e desespero em momentos de crise, treinamentos constantes para intensificar a segurança na prestação da assistência, contratação emergencial de mais profissionais para diminuição de sobrecarga laboral e garantia de equipamentos de proteção individual. Nesse cenário pandêmico, aponta-se, também, a necessidade de estudos sobre os impactos da Covid-19 no futuro, para que em outros momentos históricos se tenha conhecimento científico ampliado sobre os aspectos da Saúde Mental que delimitem as pandemias e outros eventos críticos, para que surjam estratégias eficazes no campo da saúde pública e coletiva para os devidos enfrentamentos de maneira mais assertiva e em tempo hábil.


MÁRCIA JANIELE NUNES DA CUNHA LIMA

Doutoranda em Engenharia de Processos na UFCG; Mestre em Sistemas Agroindustriais pela UFPB; Membro do grupo de pesquisa violência e saúde da UFCG; Enfermeira pela Faculdade Santa Emília de Rodat – FASER;Docente da Ômega Cursos Profissionalizantes;Gestora de políticas públicas da mulher e saúde da APBCE; Pós-graduanda em MBA Gestão hospitalar e serviços de saúde

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